domingo, 4 de março de 2018

Grande entrevista do Braima Camará - Ba Kekuto 

OD: Braima Camará se arrependeu por ter aceitado os resultados do VIII Congresso em Cacheu?

BC: Não…não! Estou muito orgulhoso e muito feliz. E se voltássemos atrás, eu iria ter exatamente a mesma posição. Sou democrata. A minha responsabilidade é incentivar a maturidade e a cultura democrática na Guiné-Bissau. A política para mim não é um jogo de futebol, onde há vencedores e vencidos.

Para mim, a política é prestar serviço ao povo e à pátria. Não estou arrependido, porque aceitei a minha derrota com toda a convicção, apesar de ter havido violações gritantes ao regulamento eleitoral e aos estatutos do partido. Salvei o partido. Quem tem a responsabilidade de promover a coesão interna do partido é o presidente do partido. Foi ele quem ganhou o congresso do PAIGC. E tem a responsabilidade de unir a família do PAIGC. Nem Salazar foi tão ditador quanto foi Domingos Simões Pereira.

É vergonhoso ver, em pleno século XXI, alguém da nossa geração almejar ser o único candidato a liderança de um partido. Isto é um insulto, é vergonhoso e é politiquice! É jogo de baixo nível! Eu não aceitaria nunca ser o único candidato em nenhum processo democrático, sobretudo quando se trata de um partido que tem a responsabilidade histórica com o nosso país. Um partido com a dimensão do PAIGC! Um partido que trouxe a independência para a Guiné-Bissau, um partido que trouxe a democracia multipartidária no país.

Isso demostra claramente que Simões Pereira não está preparado para fazer a política num quadro democrático e muito menos de debates políticos. Ele tem medo de debate político. Lembro que convidei-o para um debate e teve medo.

OD: Não sente pena hoje de estar fora do partido?

BC: Esta não é uma direção do partido que assegure os princípios do PAIGC. Sou do PAIGC e estou dentro do PAIGC. Mas esta direção não é digna do PAIGC. Simões Pereira não está preparado para dirigir o nosso partido. Ele não está preparado para a democracia e não está preparado para fazer política. Porquê? Porque foi-lhe dado um tacho. Domingos Simões Pereira, quando foi eleito presidente do partido estava no desemprego.

OD: Foi o segundo candidato mais votado de VIII Congresso em Cacheu. Agora está fora do partido por causa da indisciplina partidária. Pensa numa estratégia ainda para contornar a situação e ser aceite no partido?

BC: Eu sou democrata e militante do PAIGC. Serei militante do PAIGC eternamente. Não sou do PAIGC por encomenda! Sou do PAIGC pelo suor e sangue dos meus pais e dos combatentes da liberdade da pátria. Não sou paraquedista dentro do PAIGC. Sou fruto do PAIGC. Já disse ao Simões Pereira que jamais entrarei pela janela no PAIGC. Se tiver que entrar na sede do nosso partido, será pela porta grande. Eu tive três encontros secretos com Domingos Simões Pereira.

OD: Onde mantiveram estes três encontros secretos?

BC: O nosso primeiro encontro secreto foi na presença de dois amigos nossos, Osvaldo Abreu (Vado) e Bacar Sanhá. Foi a 16 de novembro do ano 2016 no Coqueiro, em Bissau. O segundo foi na residência do Embaixador de Angola a dia 21 de julho de 2017. O último encontro foi em Gabú, na casa do Alfa Bari. Todos com o propósito de uma possibilidade de reconciliação da família do PAIGC, mas Domingos Simões Pereira tem medo da democracia, tem medo das urnas.

Em pleno século XXI, imagina haver um único candidato num congresso, onde cada congressista tinha que ter uma pulseira para se identificar. No boletim de voto havia apenas um candidato para legitimar, além das ameaças às pessoas de que havia câmaras de vigilância no salão e que veriam onde cada delegado ao congresso votasse. É vergonhoso!

OD: Foram três encontros com a direção do PAIGC, no sentido de convencê-lo a atribuir um cargo. Não resultou em nada. O que está na base de falhanço destes encontros?

BC: O meu problema não é lugar. Se eu quisesse, não teríamos ninguém como primeiro-ministro se não Braima Camará. Eu não quis e por isso Baciro Dja foi nomeado. Não quis, Umaro Sissoco Embaló foi nomeado. Não quero, porque não estou a trabalhar para tachos. E a minha luta política é provar ao mundo que a Guiné-Bissau é um país possível e viável com quadros que têm massa cinzenta.

O maior problema tem a ver com uma distribuição equitativa dos nossos recursos. Na mesma casa não pode haver filhos e enteados. Onde eu estou, está sempre a verdade e a justiça. O Domingos Simões Pereira é ditador e nunca diz a verdade. Diz uma coisa hoje e amanhã explica de forma completamente diferente.

No encontro a que fez referência, o Domingos Simões Pereira, disse que estava disponível para eu voltar ao partido, mas Baciro Dja e Adja Satu Camará não poderiam voltar a ocupar os seus lugares de vice-presidente. Não sou traidor e oportunista para abandonar os meus colegas pelo caminho. Por isso esses encontros não resultaram em nada, porque da minha parte eu estava disponível para voltar.

Ele tem medo de debate contraditório no partido, não tem ideias próprias. Um homem que chegou ao lugar onde está devido ao apadrinhamento do Manuel Saturnino da Costa, Adja Satu Camará, Baciro Dja, Botche Candé e Martinho Ndafa Kabi e hoje nenhum destes senhores estão com ele. Quando foi dirigir a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), não ganhou um concurso.

Por: Assana Sambú, António Nhaga e Sene Camará

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