terça-feira, 25 de novembro de 2014

O PAIGC NÃO QUER PAZ NA GUINÉ-BISSAU

 A questão fundamental que colocamos aqui para uma reflexão séria, quer para a comunidade nacional, quer para a comunidade internacional, consiste a saber como é que surgiram as tentativas, os golpes de Estado e a guerra civil que este país conheceu, situações que ao nosso ver devem hoje merecer uma meditação especial de todos?

Os camponeses, fundamentalmente os Balantas/Brasa, eram os excluídos da Colónia portuguesa da Guiné. Como excluídos e desprezados pelos colonialistas portugueses que os obrigavam aos trabalhos forçados, com perseguições e maus-tratos, também colocavam os seus agentes colaboradores doutras etnias para dirigi-los politicamente, como meio de enfraquecer e eliminar as suas capacidades de resistência imposta ao regime colonial. Mas, o que aconteceu face a estas brutalidades coloniais foi o contrário, porque os Balantas/Brasa passaram a odiar o colonialismo e os seus regimes sucessivos de tal maneira que se organizaram em conformidade: politica, económica e socialmente para se manter num sistema tradicional paralelo ao sistema colonial.

Foi a razão porque Amílcar Lopes Cabral os mobilizou quando descobriu esta forma de existência própria capaz de ser dinamizada contra os seus inimigos principais. E foi o que aconteceu e todo o mundo sabe que sem os Balantas/Brasa era impossível ganhar a guerra contra os colonialistas portugueses e os seus aliados. Portanto, mesmo os outros países saídos das ex-colónias portuguesas como Cabo -Verde e outros países do PALOP, beneficiaram de certo modo, das consequências positivas desta coragem e abnegação manifestadas pelos Balantas/Brasa na Guiné-Bissau, para a obtenção das suas independências respectivas.

 Sem nenhuma dúvida possível, se pode afirmar que, com a mobilização, a guerra, até à libertação da Guiné-Bissau, os Balantas/Brasa constituíram mais de 90% dos militantes e simpatizantes do PAIGC. Mas, pergunta-se quantos ali restam hoje? Foi sobretudo, com o golpe de Estado de 14 de Novembro organizado pelo João Bernardo Vieira (Nino) contra o Presidente Luiz Cabral que uma viragem importante se realizou tanto no interior do partido como no país.

 A procura do poder eleitoral para se manter no poder, a casta tribal de “Chão de Papel-Varela” organizou, por um lado, várias maquinações designadas de “casos” para poder expulsar os Balantas/Brasa do PAIGC e integrar os elementos das outras etnias que se aliaram ao colonialismo português.
O mais cruel e decisivo desses casos todos foi aquele de 17 de Outubro de 1985, que ceifou a vida de tantos jovens balantas patrióticos com base numa falsa acusação do Primeiro Vice-Presidente e alguns oficiais superiores de tentativa de golpe de Estado.
Por outro lado, Nino que com o seu discurso ao país desencadeara uma luta tribal quando afirmou ter expulsado os Caboverdianos para mandarem em Cabo-Verde, para deixar os «Melhores filhos» da Guiné-Bissau mandar no seu país, fora entregue todos os poderes da Nação como General Presidente de tal maneira que com a casta tribal constituíram um Estado Pessoal onde as suas palavras se transformavam em política de Estado. Pergunta-se quem são «os Melhores Filhos da Guiné-Bissau», as castas tribais?

 Aliás, as castas tribais são frutos das tribos coloniais constituídas em Bissau pelo colonialismo português: a Tribo de Chão de Papel-Varela (dos grumetos papeis); a Tribo de Gã-Biafada (dos grumetos Biafadas); a Tribo de Reno (dos grumetos Brama: Manjacos e Mancanhas), a Tribo de Cupilão (dos Fulas e Mandingas), etc., enquanto os Balantas/Brasa e os Djolas são as únicas comunidades étnicas que não se organizaram em tribos em Bissau por causa da resistência imposta aos colonialistas europeus foram automaticamente impedidos de se organizar em Bissau.

 Foi então, sobre estas castas tribais que se apoiaram o Estado Pessoal e o PAIGC para organizar e impulsionar as actividades das instituições tal como o Ministério do Interior contra os Balantas/Brasa.
 Assim, com as manipulações da casta tribal papel sobre o poder do Estado pessoal e do partido, os Balantas/Brasa foram imediatamente submetidos a uma pressão desenfreada de insultos, perseguições e humilhações, uma vez reconsiderados como “selvagens”, “pés sujos”, “ladrões”, etc., ao ponto de por exemplo, designar o Palácio de Estado de “Djugodul” porque a maioria de homens de segurança de Nino que vivia lá era balanta. Da mesma maneira que algumas das comunidades tribais organizaram a invasão de aldeias dos Balantas/Brasa para arbitrariamente roubar as suas vacas acusando-os de serem ladrões.

Foi com a eliminação dos Balantas/Brasa das possibilidades de assumir o poder com o caso 17 de Outubro de 1985, que com ajuda dos seus aliados de então, Portugal e França, foi precipitada a integração do país no FCFA ou seja, na UEMOA e na CDEAO. Na altura, muitos pensaram que os Balantas/Brasa estavam totalmente afastados de possibilidades de reagir contra os tais abusos praticados contra eles. Só porque ignoram completamente quem é o povo Balanta/Brasa. E perguntamos qual é o povo ou a comunidade que depois de ter tudo dado para libertar um país aceitaria tais desmandos, insultos e humilhações?

Foram as reacções dos balantas contra os abusos, insultos e tentativas de exclusão que deram força ao Gen. Ansumane Mané, não simplesmente para escapar de uma morte certa decretada pela casta tribal papel, mas também, de ganhar a guerra civil que o país conheceu.
 Depois desta vitória, os Balantas/Brasa demonstraram um verdadeiro sentido de Estado, de tal forma que recusaram aderir às acções de vingança e tudo fizeram para que houvesse uma verdadeira reconciliação, sobretudo, nas Forças Armadas.

Nas eleições seguintes organizadas, Dr. Koumba Iala conseguiu ganhar com uma absoluta maioria as presidenciais. Mas, como os Balantas/Brasa não têm uma casta tribal para defender a sua permanência no poder, num espaço de dois anos foi expulso de poder definitivamente com a participação de oficiais superiores balantas convencidos pelas castas tribais da necessidade dessa mudança.

Com essa mudança, o General Presidente foi feito regressar do asilo em Portugal para vir ganhar as eleições seguintes. Com isso, as castas tribais reassumiram o poder de Estado e recomeçaram as manipulações contra os Balantas/Brasa que queriam expulsar das Forças de Defesa e Segurança, substituindo-os pelos «Enguentas».

Quando conseguiram matar o General balanta da “estabilidade e reconciliação”, então mataram tudo, o General Presidente e o seu regime.
 Com a morte do Nino, ganhou as eleições o Presidente Malam Bacai Sanha juntamente com a casta tribal Biafada. Esta casta tribal faz um dos sobrinhos de Biafada ocupar importante posto de Primeiro-Ministro e tudo recomeçou contra os Balantas/Brasa.

Estes começaram de novo a ser perseguidos, acusados como maiores traficantes, ameaçados de serem expulsos de Forças da Defesa e segurança com a vinda de Forças Armadas do exterior (as Forças Armadas Angolanas). Seguiu-se uma selecção a ponto fino de jovens formados em Angola (os Angolanos) na qual todos os jovens balantas foram impedidos a tomar parte.
 As reacções contra estas atitudes ditatoriais, exclusivas, anticonstitucionais e humilhantes, sem falar de várias mortes de cidadãos guineenses, conduziram a novos “casos” de tentativas e de golpes de Estado.
 Com as novas eleições, ganhou o Presidente Mário Vaz do PAIGC com a sua casta tribal Brama (Manjacos e Mancanhas). Esta casta parece aquela que, de forma curiosa, mais avidez tem a correr com os Balantas/Brasa não simplesmente da função pública, mas também das Forças da Defesa e segurança. Da mesma forma que estas avidez e pressa são transparentes em relação à atitude de infligir uma perda de riqueza e humilhação das mais flagrantes aos Balantas/Brasa. Se não vejamos.
 -Como explicar a seguinte intenção: “Presidente quer diversidade étnica nas estruturas de segurança, menos balantas” (Expresso Bissau, Seminário n.º 152-22-2014)?

 - Como explicar a invasão das tabancas dos Balantas/Brasa supostamente acusados de ladrões de vacas sem nenhuma prova formulada, permite-se aos policiais introduzir-se dentro das casas alheias, roubar tudo quanto querem, agredir, prender e bater algemado para impedir cidadãos de se explicar e defender o que lhes pertence. Para em seguida e sobretudo, levar todas as suas vacas a entregar a um manjaco? Quem pagará pelo tamanho abuso praticado contra cidadãos indefesos se tudo é verdade?

 - Porque será um Ministro Fula o impulsionador de tais actos a favor de uma casta tribal cujo filho ganhou as eleições? Não será porque a casta fula também espera dela se apoiar, se tudo ficar na impunidade e sem nenhuma reacção dos Balantas/Brasa, para assaltar as aldeias destes, quer no Norte, quer no Sul a procura das suas vacas?

 - Os Manjaco e os Fula não serão mais ladrões de gados do que os Balantas?
 - Quem ignora que os Manjaco e os Fula tendo geralmente maiores poderes económico e financeiro roubam as vacas utilizando camiões que os Balantas normalmente não têm?

 - Quem ainda não sabe que os manjacos vivendo tranquilamente no Norte e no Sul no interior dos Balantas/Brasa roubam centenas de vacas destes utilizando camiões? Quem tem dúvida que se dirija na Defesa e segurança de Buba onde há bem pouco tempo alguns manjacos foram presos com camiões cheios de vacas dos balantas a quem foram devolvidas as presas.

 - Recentemente, um grupo de polícias afectados na Região de Tombali e residentes em Catió, aplicaram regras absolutamente fascistas contra população indefesa dos Balantas/Brasa, permitindo-se deslocar à cada aldeia onde todo e qualquer animal que conseguem apanhar (uma vaca, uma cabra, um porco, etc.,) é levado ao Comissariado e o dono deverá ir libertá-lo pagando cinco mil por cabeça. Se não tiver dinheiro em altura perde os seus animais em favor desses fascistas. Perguntamos se todos estes abusos não são atitudes anti-democráticas? O que espera a Autoridade nacional, os Deputados em especial para agir? E será que a Comunidade Internacional não sabe de todas estas práticas que contribuem a incendiar o país? Ou espera para vir agir em Bombeiro?

 - Perguntamos então, e o próprio leitor responderá a questão: quem sempre procurou a guerra na Guiné-Bissau, e, de novo está procurando-a porque tem medo da reconciliação e da paz?
Respondam


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