quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O PONTO DA DIVERGÊNCIA…

(atualizado às 12:59h)

 Vira o disco, toca o mesmo!

O principal ponto da discórdia e de divisão interna no PAIGC e por implicação atinge a sociedade e às famílias guineense, é, no meu entender, a necessidade de esclarecer os assassinos ocorridos na nossa terra em 2009. 

Sobre esta iniciativa há duas grandes tendências: por um lado, os que se posicione à favor e, do outro, os do contra. José Mário Vaz, Presidente da República, teve encontro no dia 2 de Setembro no Palácio Presidencial com 67 altos graduados do exército oriundos de diferentes unidades do país. Consta que, nesse encontro, o Presidente Vaz “explicou detalhadamente as razões da sua pretensão em libertar os detidos do caso 21 de Outubro de 2012”. 

Dizia-se, inclusivamente, que a sua decisão visa promover a “reconciliação entre os militares assim como no seio da família guineense”. Não tive acesso às fundamentações teóricas do Presidente da República, mas presume-se de que lado estaria, diante, portanto, de uma situação que esperava dele uma posição firme, legal e humana. 

Que eu saiba, não existe zanga entre os militares e muito menos no seio da família guineense. Existem, sim, correntes de pensamento antagónicas na classe política nacional que se digladiam, como dizia, para que se faça, ou não, luz aos acontecimentos de 2009. O levantamento militar de 1 de Abril de 2010, evidenciou os antagonismos existentes no seio do partido libertador e na sociedade em geral sobre esse assunto. Os relatos do jornalista da PNN, Rodrigo Nunes, sobre os riscos que o ex-Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, corria evidenciavam essa realidade. Segundo o jornalista, Cadogo Jr., era ameaçado “(…) até por deputados do PAIGC afetos ao reduzido grupo «anti-Cadogo»(…)”. 

O jogo de empurra entre as duas magistraturas, civil e militar, sobre “quem tem competência” para julgar “os processos”, mostrava como a divergência se alastrou no seio das outras classes profissionais, e não só, do país. Em Junho de 2010, o Partido da Renovação Social (PRS) instara o ex-chefe de Estado, Malam Bacai Sanhá a revelar nomes dos políticos envolvidos nos assassinatos de Nino Vieira e Tagme Na Waié.  

Em 19 de Agosto do mesmo ano, o ex-Presidente Sanhá, após a recessão de um grupo de pessoas, familiares e amigos de dirigentes políticos e militares, pediu paciência e jurara que nem que a decisão tivesse que custar a sua vida, os assassínios de dirigentes do país ocorridos em 2009, entre os quais o do seu antecessor, João Bernardo 'Nino' Vieira, teriam que ser esclarecidos. O ex-chefe de Estado viria a falecer em Paris, no dia 9 de Janeiro de 2012, sem que o Ministério Público tivesse avançado um passo sequer nessa matéria.

Ora, porquê que quando se aborda esses assuntos (esclarecimento dos assassinatos políticos), Carlos Gomes Júnior e os seus seguidores e admiradores, tremem e se esperneiam? Creio que resposta nos possa conduzir à origem da propaganda e campanha contra as nossas forças armadas e não só. É que, na sequência do levantamento de 1 de Abril de 2010, o ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, tinha ausentado do país, por cerca de três semanas, tendo passado por Cuba, França e Portugal. Tendo em conta o receio que envolvia o seu regresso ao país, Rodrigo Nunes escreveu: “(…) o Primeiro-Ministro guineense tem sido ameaçado de morte, de prisão e de participação nos crimes que mancharam a história recente do país. Mas apesar da intensa pressão interna, Carlos Gomes Júnior mantém-se determinado em regressar ao país e em efetuar uma remodelação governamental”. Pois, o problema é que eles próprios “enfiaram a carapuça”! E terá sido, justamente, nessa altura que Cadogo Jr., resolveu lançar mão do prestigio que gozava em sede de certa comunidade internacional (entenda-se CPLP) para contra-atacar. 

Para os países da língua portuguesa Carlos Gomes Júnior era o único interlocutor verdadeiramente reconhecido. Por parte dos seus apoiantes e seguidores, começou a despoletar, como dizia Nunes, a vontade de adoção de medidas radicais. Dizia: “Este Governo do PAIGC conquistou, com provas dadas, a comunidade internacional, pelo que esta observa com desagrado as estratégias mal camufladas para promover o seu afastamento. E, em relação às ameaças contra Cadogo Jr., apontava o dedo acusador a uma situação de subordinação, pela coação das armas, do poder político ao militar, com o alto patrocínio do Presidente da República, Malam Bacai Sanhá”. 

Para combater, então, a corrente empenhada na luta pelo esclarecimento dos assassinatos, Cadogo Jr., e seus seguidores, começaram, por um lado, a enviar nomes de altas figuras para o departamento de Tesouro Americano, a solicitar o reforço da presença dos EUA na sub-região, estreitando relações com Cabo Verde no chamado combate ao narcotráfico, a pressionar a França e a Espanha para reclamar junto a Bruxelas medidas urgentes contra o trafico de droga. E, por outro lado, desencadearam uma campanha de difamação contra o Presidente Sanhá, citando seu suposto envolvimento direto nos acontecimentos de 1 de Abril, a sua obsessão pelo controlo do Governo e do PAIGC e a sua vontade de agradar os países como o Senegal e Marrocos, mesmo com direto prejuízo dos interesses nacionais da Guiné-Bissau, o que, para eles, tem vindo a refrear as boas intenções de alguns parceiros internacionais. 

Dizia-se também que Sanhá, em um ano de mandato, acabara por sobressair internacionalmente pela negativa, visto que criara uma espécie de “governo sombra” com conselheiros para todas as áreas de governo, com vencimentos equivalentes ao de Ministros.

Pergunto: será que foi dessa “guerra” que o Presidente Vaz esclareceu aos 67 altos oficiais militares no Palácio Presidencial, no dia 2 de Setembro? Na minha perspetiva, anterior a qualquer iniciativa de “reconciliação”, a questão prioritária, neste preciso momento, seria de saber se os assassinatos ocorridos em 2009, serão, ou não, esclarecidos.


Doka Internacional

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