quinta-feira, 7 de novembro de 2013

“GUEBUZA CANTANDO À DESGARRADA…”

O desentendimento terá surgido na sequência da discórdia entre a Renamo e o Governo em torno da lei eleitoral. Fato que coloca Moçambique sob a ameaça de uma nova guerra, após 20 anos de paz.
Tudo se degenerou quando o exército atacou Santungira onde residia Afonso Dhlakama, no dia 21 de Outubro passado. Consta que Santungira não seja propriamente uma base militar. Trata-se de um acampamento onde o líder da Renamo se encontrava a residir. Mas, o fato de ter sido ocupada militarmente pelo Governo da Frelimo, implica que o Presidente Armando Guebuza decidiu deitar fogo aos “Acordos de Roma” assinados em 1992, dando assim o tiro de partida para uma nova escalada de violência nesse país lusófono. 

É de recordar que “Os Acordos de Roma” permitiam a manutenção de uma bolsa residual de homens armados da Renamo para proteção do seu líder… Hoje, o Presidente da Renamo encontra-se em parte incerta.

O académico moçambicano Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica em Maputo, é um dos dois mediadores das negociações para aproximar as posições entre o Governo da Frelimo e a Renamo nos últimos dois anos. Segundo noticiou jornal ”O Público”, Lourenço do Rosário informou que “Ele ( Dhlakama) diz que quer dialogar. E não pode. Neste momento é refugiado militar, está a fugir de uma operação militar. Não é uma questão de polícia, é uma questão militar. Sendo uma questão militar, é uma situação de guerra, embora não seja declarada. Quem ocupou o seu acampamento não foi a polícia, foram os militares.” E acrescenta Rosário “(…) Só pode haver uma retirada do Exército se houver, por outro lado, a cessação dos focos de violência. E isso, infelizmente, não está a acontecer. Continua a haver uma espiral desses ataques quer a alvos civis, quer a alvos militares.”

A polícia não protege os cidadãos. A onda de raptos que começou em 2011 em Moçambique, não atingia às mulheres ou crianças entre os sequestrados. Os visados eram empresários de sucesso entre a comunidade indo-paquistanesa. A maioria dos casos não chegava a ser tornada pública. Hoje em dia, as mulheres e os filhos de homens de negócios passaram também a ser alvos dos sequestradores. 

Nos últimos meses, os casos tornaram-se mais frequentes, violentos e flagrantes, com ataques e raptos em plena luz do dia a atingir crianças e outras comunidades como a moçambicana de raça negra e a portuguesa. Chega-se mesmo a citar alguns gangs que aparecem armados de espingardas AK-47. Na semana passada, a Liga de Direitos humanos de Moçambique, juntou milhares de pessoas protestando nas ruas de Maputo e Beira contra silêncio do Governo e a ineficácia da polícia. O Pânico instalou-se. Começa-se a circular em Maputo a informação de denúncias de mulheres que, depois de sequestradas, reconheceram entre polícias fardados os seus atacantes. 
Em resultado à fraca resposta da polícia à onda de raptos, o Ministério do Interior demitira o diretor da Polícia de Investigação Criminal. E, pela mesma altura, foram condenados três polícias que integravam uma rede de sequestradores que chegavam a exigir 165 mil dólares de resgate. Um dos condenados era membro da guarda do Presidente. Em Maputo, agora, só o dia dá uma aparência de normalidade à vida. À noite, as ruas ficam desertas. Conta um citadino: “Os restaurantes estão vazios, ninguém sai de casa. Maputo está em estado de sítio. Parece uma cidade-fantasma.”

Em 12 de Abril do corrente ano, o Secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, considerara "estável" a situação política em Moçambique, pelo que "no momento" o conflito entre ex-guerrilheiros da Renamo e o Governo "não é motivo de preocupação" para a organização lusófona. Em 23 de Outubro último, o mesmo responsável moçambicano insistia dizendo que “Por enquanto não é necessário nenhuma intervenção da CPLP, mas se for necessário, os estados membros estão disponíveis a ajudar, não digo intervenção militar, mas política”. Por outro lado, os discursos das autoridades portuguesas no que toca a crise moçambicana, têm sido orientados no respeito à soberania daquele Estado lusófono.

Em jeito de conclusão diria que,  à partida, a crise política na Guiné-Bissau e, hoje, em Moçambique não são comparáveis. Mas, no que toca aos posicionamentos dos países da CPLP, no meu ponto de vista, serão sempre confrontáveis. Domingos Simões Pereira, o anterior Secretário-executivo da CPLP, face a crise guineense que culminou na destituição de Governo de Carlos Gomes Júnior, posicionou-se, sem subterfúgios, como agente ao serviço de Angola, Portugal e Cabo verde. Hoje acotovela-se para o cargo de Presidente do PAIGC, e consequentemente para vir dirigir o futuro governo do meu país. Pergunto: onde é que está a “consciência de Estado” deste meu conterrâneo?


Doka Internacional

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